16/03/2010

Quimeras - Poema de Alfredo Brochado


Quimeras

Há na minha vida quimeras distantes,
Quais nuvens errantes, em dias atrozes.
Eu corro atrás delas, mas elas, por fim,
Perdem-se de mim, no horizonte, velozes.

Há no meu diário silenciosas dores,
Quais flores que o vento desfaz de manhã.
Com elas me embalo nos dias soturnos,
Dir-se-iam «Nocturnos», como os de Chopin.

Há no meu caminho nem sei bem o quê.
Alguém que me vê e que eu não visiono.
São meus dias passados, meus dias de infância,
Sabendo à fragrância das tardes de Outono.

Saudades, saudades, sentido da vida,
Um dia vivida e que não volta mais.
Meus dias passados, sobre eles me debruço,
No eterno soluço das coisas mortais.

Há na minha vida um viver fictício,
Fogo de artifício, esplendente e altivo.
Eu vejo-o enlevado, um instante fugaz,
Depois se desfaz na noite em que eu vivo.

Há na minha vida ignotas tristezas,
Pequenas certezas a que me apeguei.
Com elas eu vivo, com elas eu morro,
Para meu socorro é que eu as criei.

Quimeras, quimeras, fumo de cigarro,
Cachimbo de barro que um dia quebrei.
Ópio sagrado, num templo budista,
Já longe da vista, e que eu nunca fumei.

Alfredo Brochado, in "Bosque Sagrado”



"Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente." (Chico Xavier)

3 comentários:

  1. Há na minha vida quimeras distantes,
    Quais nuvens errantes, em dias atrozes.
    Eu corro atrás delas, mas elas, por fim,
    Perdem-se de mim, no horizonte, velozes.

    Bom dia!

    beijooo.

    ResponderEliminar
  2. Podemos até deixar as quimeras adormecidas, mas de quando em vez se apoderam de nós
    beijinhos

    ResponderEliminar
  3. Lindo poema. Quanta sensibilidade.
    Um abraço
    Marinide

    ResponderEliminar

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” (Antoine de Saint-Exupery).

Obrigado pela sua visita e pelo carinho que demonstrou, ao dispensar um pouco do seu tempo, deixando aqui no meu humilde cantinho, um pouco de si através da sua mensagem.

Topo